À ESPERA DE UM MILAGRE

Olhos bruscos invadem o homem de terno,

Olhos delatadores,

Apontam como chamas na mente

Os dardos sedativos.

É o homem um canalha meticuloso

Com direito a flores no bolso

E gravata cor de ameixa.

Leva o destino de várias pessoas,

Leva a carne,a sanguessuga,

Leva a palavra desencontrada.

Pára sob uma janela fantasma

E retira do bolso um poema

Declama para um palco vazio

E inventa na lua uma donzela.

Vagabundo politizado,

Argonauta de sonhos precisos,

Defensor de realidades impossíveis.

O homem foge

Para uma noite embriagada,

Foge com seu desespero de amor.

Amanhece na cidade ruína,

Os passos e as pessoas

Começam um novo calendário,

Renovam-se as dores,

Burburinho nos mercados.

E o homem ali,atravessado,

Espectro real no espelho,

Cravado com sonhos pelo corpo,

Salgado pelo sol que insiste em nascer,

Desmemoriado,torto,

Definitivamente curvado

Sobre a fonte dos desejos.

Fantasma afinal dos beijos rabiscados,

Morto dentro do próprio poema

Que um dia traduziu por escrito

Ao seu amor inventado.

Gilberto de Carvalho
Enviado por Gilberto de Carvalho em 29/04/2010
Código do texto: T2227917
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