CANÇÃO DE LUZ

CANÇÃO DE LUZ

Vem, resgata o tempo

Coloca a mão em meu ventre

Expurguei você na tristeza

Por direito de adormecer em esquecimento

Para os cavalos das posses transitórias

Passarem, passarem... Queimados estão

Estarão aos gritos em pecado animal

guerras do próprio mal

Aproxime-se cheio de sangue

Com a mesma cara de feto, o início

Do olho no olho, Amor

Da mesma cor tão vermelha

Venha à terra que chegaste

Como primeiro viajante

Não a poeira que te comeu os pés

a cruel e vã centelha

Ressurja verde com seus lírios

Seu sorriso branco cheio da inocência

Entre seus olhos pequenos

O terceiro olho que rege o destino

Sua brisa moldando meu rosto risonho

Amor como quiser chegue

Reparta o coração desse peito

Latejante, soluço da alma

Suje de sangue, sangre derrame

A entrada da vida... de todas as coxas

Rasgue em gozos fálicos

Tudo que assim sou feita

Entre as chorosas gotas

Do suor de uma vida plena conduzida

E tantas idas, a uma seca ferida

Deixe queimar, morrer seus garfos

Que te feriram e que vieram a ferir-te

Não há mais poda, nem navalha suicida

O passado foi ilusão canalha, falha

O poder da soberba desvairado oxida

Há o jogo das flores aqui

Dentro da seiva líquida,

das veias encharcadas de mar

dentro de mim, descuidado jardim

Ao relento, ao suave vento

De minha pele na sua, o amar

Roce a minha rama à sua asa

Dê arrepios, dance em mim

Mate todas as desgraças que tens

Venha à graça, a revolução

A manifestação do encontro sem palavra

Aquela canção de luz sem fim, evolução

Quando voas farfalhando suas asas

No céu de todas as minhas bocas

Assim seria o direito, a plenitude

De meu corpo, essa cidade

Cansada, caiada de fantasmas

Explodindo jardins azuis em régia flor

à quase face fria, uma parede d’água

Da lágrima amiúde

Rompa os meus e seus muros

Traga delírios, rebrotem lírios assim

Só nossos círios da paz

Da verdade humana, flamantes urros

Da verdade sem condenação

De existir sem nada atrás

Sem a lambida fúria serpenteando

A maldade torpe

E nossos corpos em chamas

Transmutando desejo

O Amor maior, nossa cama

sem nada atrás

Só nossos círios da paz

E a dança...

e tudo que é mais

Cíntia Thomé

.

Cíntia Thomé
Enviado por Cíntia Thomé em 28/04/2010
Código do texto: T2224837
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.