CÍRCULOS DE SEDA DA ALMA

Em círculos de seda

Voando pelos madrigais

Em pas-de-deux

A alma está tão certa e reta

Como o piano e suas teclas

A olhar o céu do teto e sentir

A música indo embora transparente

A luz transpassa o azul marinho

Há um defloramento sem dor

Um estupro no pensar em amor

Uma mesmice de olhar pelas paredes

Escorrendo menstruadas as horas

Até amanhecer

Tudo debruçado na janela

Numa paisagem quieta, estranha

Ardendo-me silenciosa as entranhas

Esperas ressonantes

A um pássaro azul posar

Em joelhos implorar migalhas

A esse amor abandonado

Atravessar juntos o infinito

Do corpo da borboleta

Desvendar o mistério de sua fome

Por mel, por beijar a frágil flor

O ritual de sua dança, sua gracilidade

O porquê de ter asas como arcanjos

Satisfeita e plena lisérgica

vai dar sorte a outro lugar

Há de haver um ponto final

Seja no chão de arrastados passos

Flutuando ou não em melodiosa tristeza

Seja na livre escolha de ser louca de amor

Possuída pelo corpo que sinto, mas distante

Aquele que julga ser um dos aventurados

por seus deuses dos deuses, quimera

Há de renascer lírio ou lua

A buscar, transcendendo seu brilho

Dos olhos marejados, sem culpa

Dos reflexos em mares e rios

Uma ciranda de humildade e prazer

Sempre o querer, a vontade de ser feliz

Todo o verbo maior

Definido no leve tocar dos sinos

De coração para coração

Certeza do navio ao porto

Atracando ao ponto de chegada, a canção

Nunca mais será partida,

a vã e cruel despedida

No píer a mão dizendo adeus

Não, não!

Assim estarei aqui para sempre...

Em círculos de seda

Em pas-de-deux

Cíntia Thomé

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Cíntia Thomé
Enviado por Cíntia Thomé em 28/04/2010
Código do texto: T2224833
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