À primeira vista
quem és tu, mulher,
que com olhos de gueixa me olha,
rasgando no rosto um sorriso maroto
de quem anseia o que semeia?
quem és tu, mulher,
que se me chega do nada,
como se no nada fosse possível
haver por lá coisa assim tão bela?
quem és tu, mulher,
que tem na pele a cor da terra molhada,
nos cabelos a do veludo da noite
e no colo um berço pra minha cabeça pesada?
quem és tu, mulher,
que me faz sonhar acordado
imaginando tudo que fica guardado
para além do que posso ver?
quem és tu, mulher,
que me desperta assim derepente
chamando-me de volta ao presente
de onde, há muito, se me fiz ausente?
Tu, mulher,
assim sinto eu,
é a expressão concreta, numa fotografia,
do que, em mim, é sonho ainda!