Cenas à flor da pele

O teu cheiro impregnado

no lençol, no roupeiro, na toalha

é uma armadilha.

Ainda vives ao meu lado

no aparelho de barbear, na malha

sob o corpo da filha.

Pulo as páginas do diário

mas teu nome não some, é marca

no sonho, no pesadelo.

Desinfeto e limpo o armário

e o cheiro da tua roupa encharca

e abafa meu desmazelo.

Estranho como tu me dói,

sem hora, sem jeito,

feito cicatriz que corrói

e agora não tem respeito.

Que pena. Continuo plena

de tua presença.

Minha sentença.

Que cena. Ainda me condena

pela emoção

à flor da pele.

Que obsceno. Me desordeno

pela paixão

que me impele.

Márcia Fernanda Peçanha Martins

(Marcinha)