Verás a saudade no orvalho das rosas...
Tenho em minhas mãos um par de brincos
São flores de ouro antigo
Com miolo de ametistas...
Tenho um vidro de perfume
Usado até a metade
Que mantém sua fragrância: “Imprevu...”
Tenho uma folha de árvore, seca,
Que contém uma história
De uma conversa à frente de uma casa
Antiga...
Tenho um pequeno cartão,
E um cartão postal
Da praça por onde passeávamos
Abraçados, entrelaçadas nossas mãos...
Tenho uma música
De um filme que vimos:
“Dio, come ti amo...”
Tenho uma foto
De um belo rapaz
Com dezoito anos...
E guardo tudo isto
Como relicário sagrado
Há 42 anos... Lembranças de um passado
Que está sempre presente
Chorando saudade
Dentro de mim...
O que pode ser isso?...
- A lembrança do primeiro namorado,
Do primeiro beijo,
Do primeiro amor?
- Ou de um amor que há 42 anos
Bate em meu peito
Com o mesmo ardor?
- Que tolice! - dirão alguns...
Um envelope amarelecido
Com perfume de saudade...
E tudo irá comigo
Para o lugar do silêncio
Onde os mortos repousam...
Serei cremada, como desejo,
E tudo voltará a cinzas
E “o pó ao pó...”
E servirei de adubo
A uma roseira vermelha
Rubra de amor,
Perfumada e viva
No jardim de uma Igreja
Onde estivemos juntos
Há tanto tempo...
Lá onde canto, onde sinto Deus presente,
“Caminhando no jardim...”
Sem placas, sem lápides,
Anonimamente
Como sempre vivi...
- Mas quando passares por lá,
De manhã cedinho,
Sentiras um perfume especial...
E, nas gotas de orvalho,
Tu hás de ver minhas lágrimas,
E sentirás meu amor
Pulsando na vida
E na beleza da flor...
- E eu para ti
Me tornarei imortal...