Nada foi em vão...
...Então eu senti que coisa alguma tinha sido em vão...
Cada momento triste
Foi uma lição
E que, de todos eles,
Sobraram pérolas em minhas mãos...
E eu renasci mais forte, mais machucada,
Mas mais vitoriosa...
Quando nasci, um pequenino “V”,
Um sinalzinho muito azul,
Veio comigo em minha perna direita:
Minha mãe e dizia:
- Hás de ser “Vitoriosa!”...
E eu cresci tendo esta esperança.
Mas...
Durante anos eu me questionei:
E me perguntava: - Vitoriosa! Em quê?...
Hoje, meio século vivido...
- Quantos sonhos foram perdidos ao longo do caminho?...
- Quantas decepções?...
- Quantas traições de pessoas em quem eu confiava
E amava?...
- Quantos mal-entendidos que me afastaram
Do caminho de sonhos que eu havia traçado?...
Tão pouco fiz!... Tanto sonhei...
E não eram sonhos grandiosos:
Era apenas viver o Grande Amor
Que a Vida traz consigo...
- Quanto dos sonhos eu realizei?...
Mas hoje eu sei: não é por aí!...
Não se avalia a Vida pelo que não se fez
Mas pelo que foi feito!...
Essas pequeninas migalhas,
Esparsas, de sonhos realizados,
São um punhado de poeira de diamantes
Em minhas mãos
E que reluzem ao primeiro toque da luz...
E nelas brilham...
- São minha riqueza e minha Vitória!...
Das lágrimas que chorei, teci
Um colar de pérolas
Que, no meu colo,
Se movimenta docemente
Ao arfar dos seios...
Cada fio de prata
Que substituiu um de ébano
Em meus cabelos,
É uma derrota que não me venceu,
Pois eu ainda estou aqui!...
Se, da beleza efêmera,
Ainda guardo alguns traços,
É porque no peito brilha
Ainda a Esperança...
(... Há uma Beleza interior...
- E essa nunca morre!...)
Nada foi em vão...
Aprendi muito!...
Talvez não do modo como eu gostasse,
Mas do que me era necessário
Para aprender da Vida a minha lição...
Durante muito tempo
Sobrevivi.
Hoje, vivo!...
Não das glórias do passado
Mas do que construo diariamente,
Do que teço devagar
Com a lembrança dos sonhos
Que acabaram por voltar...
Agora eu entendi
Que coisa alguma foi em vão...
A espada vai à forja
Para, no fogo, o aço
Se aprontar;
O diamante é lapidado
Para que possa fulgurar;
A pérola consome a ostra
Para que bela se possa mostrar...
- Minhas poeiras de sonhos
Voltaram a rebrilhar...
...Nada acontece por acaso,
Nada é em vão...
- Nem esta imensa solidão...