72 Horas

Sinto a ressaca do amor excessivo

e do exagero de estar vivo

nesse tempo de gesto passivo

e falar inexpressivo.

Preço de viver assim:

o estranho lucro

de burro xucro,

de doido maluco

que sonha o harém sem eunuco.

Da sacada assisto

o Homem restrito

que efeitiçado pelo rito,

ou por K. e pelo grito,

chora e berra aflito

e se queda contrito.

Qual será sua mandinga?

Tão moço ainda ...

Logo tomarei a Morfina sagrada

e a ausência indesejada,

por obra da bela amada

que mistura sopro e dentada.

Por onde A. andará?

Em qual tempo me esperará?

A chuva da madrugada

lavou a alma e o Nada,

nessa incerteza de calçada.

Anoitece a solidão que me traga

e essa angústia que nada afaga

ajeita-se na cama e cobra sua paga.