Caixinha de Surpresas
Caminha pela cidade afora, na multidão sul-vermelhante,
Hora sim, hora não, depois do repor dos ponteiros,
Em veias de pedras: avenidas pulsantes,
Indo ao teu encontro como bela ave que plaina,
O coração de quem aponta o norte de seus pensamentos.
Ouço toda voz que de ti provém, mesmo eu, surdo.
Falo e repito nossas palavras e juras ditas, mesmo eu, mudo.
Vejo tuas marcas e cores a todo tempo, mesmo no escuro.
Sinto teu coração que centraliza e pulsa, mesmo que longe.
As vozes se calam e nos silencia o dedo da realidade agora.
Os olhos que um dia se encontraram
Juraram por si mesmos e sem palavras,
Traçar as mesmas rotas, morrerem no paralelo da existência.
Sem a luz que emana dos teus olhos
Não posso ousar tocar o escuro de mim mesmo.
E as mãos que um dia se encontraram,
Partilham as partidas e acenam caminhos,
Um dia se tocam, um dia se lavam, até retornarem à pele de casulo.
Sem o escuro que provém de mim
Não posso ousar apresentar-me diante da luz que vem da tua retina.