OLHOS CASTANHOS DO FUTURO
Não pretendo prever o futuro
contudo, pretendo um dia encontrá-lo
comprimentá-lo, estender-lhe a mão
dizendo: "sou Paulo
aquele que esperava por ti
ou aquele que estava esperando"
Não sei
Prefiro o futuro em inglês
pois na indeterminação dos gêneros
the future me permite imaginá-lo mulher
a delicada predesetinação feminina
sempre me pareceu infinitamente melhor
que a falsa e prepotente turrice dos homens
irei encará-la
talvez venha vestida de branco
com uma rosa no cabelo
talvez venha cantarolando
um novo velho samba
que mexe com meu coração
se pudesse a beijaria
diria "cá estou
para tomar-te
em meus braços"
Não acredito no mito
que o espaço tempo
se traduza nas linhas de minhas mãos
calejadas
que seguram o buquê
das flores murchas
que pretendo entregar ao futuro
que escapa de mim
a cada piscar de olhos
Talvez o futuro tenha olhos de Capitu
certamente os tem
pois desde aquela perdida noite de junho
venho contemplando-o
buscando-o
sem saber a razão
pode ser o futuro
a moça dos olhos cafés
pode ser que por isso
nunca a tenha encontrado
por mais árdua que tenha sido minha busca
em todos os meus dias de chuva
do momento em que cordo
até aquele em que minha cabeça confusa, cansada,
pesada
torna ao conforto fácil do travesseiro
no derradeiro momento irei encará-la
tocar os seus lábios
no fim do caminho
onde o tempo para
onde o espaço observa
quando me encontro com aquela
a qual procurei por dias, tardes, noites,
madrugadas geladas e alcoólicas
lá estará, a final
para que eu deposite minha alma
em seus olhos, cor de terra
P.R.O