PÁSSARO DO AMOR
Guida Linhares
 
Quantas vezes chegaste ao meu jardim?
Muitas e muitas vezes, cantaste músicas
afinadas que eu ouvia encantada.
 
Na adolescência, já bem distante,
as músicas possuiam todo um deleite
do desconhecido, do que está por chegar!
 
Todas elas se desvelaram,
eu te acompanhava ao violão.
Nós dois nos divertimos muito,
e até ias ao salão dançar,
pois ambos adorávamos!
 
Aí aconteceu...o enamorar de alguem
muito especial.
Em nosso sonho de Cinderela
seria com ele que moraríamos
num castelo dourado,
e seríamos felizes para sempre...
 
Mas ficaste preso numa gaiola.
A tua alegria aos poucos foi sumindo,
cedendo lugar à indignação.
E a cada vez que reclamavas,
as paredes respondiam e então...
paraste de cantar!!!
 
Por alguns anos te recolheste,
observando as grades de arame,
até que um dia forçaste a porta.
Ela se abriu...nem estava trancada.
Quem a teria aberto?
 
Mesmo assim a dificuldade de voar
era grande...
Tanta solidão a dois! Tanto cativeiro!
Agora ele não mais existia. Mas sair
da gaiola e ganhar o espaço...
 
Enfim..numa tarde em que já se prenunciava o arrebol, 
surgiu um beija flor, que adorava bailar entre as flores do jardim.
 
Nos convidou a ver a beleza da natureza e voar alegre de novo,
cantando todas as canções.
Havíamos até esquecido de como eram
maravilhosas e o quanto aqueciam
o coração.
 
Porém, quando esquecemos
da velha gaiola, chegou a primeira tormenta!
E nos sacudiu forte, tu quebraste
uma asa e eu quebrei meu coração
em mil pedaços.
 
Quando te coloquei em meu colo ferido,  procurei nosso amigo beija flor,
e não mais o encontrei...
No meio do temporal fomos esquecidos.
 
Mas mesmo assim cuidei de você,
doce pássaro do amor.
Quantas vezes chegarás ao meu jardim?
 
Muitas e muitas vezes,
cantarás músicas afinadas que eu ouvirei encantada.
pois sem o amor, o que seria de mim?
 
Santos, SP
17/11/06
 
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