Navios incendiados

Preciso tanto de encanto como do indispensável ar que respiro. Encanto que me venha da poesia, o encanto de teu riso magia, ou de sons provenientes de belas canções.

Repentinamente, uma chuva de granizo, alimentada por nuvens de desencanto, deixa-me a face toldada, a alma em frangalhos, o querer viver por um fio.

Percebo, desconsolado, o quanto sou humano. Ponho-me de imediato a recolher, amuado, os velhos mastros abandonados de meus incendiados navios.

Navios com porões abarrotados de sonhos irrealizados, a trafegar, desgovernados, por ignotos mares, mira de quiméricas sereias, vendaval de insanas paixões.

Preciso desse teu encanto travesso, de tuas estrepolias a virar-me do avesso, da vida renascida que me vem no rastro de tua voz, no viajar ao sabor de teu beijar intrigante.

Estrelas de sangue porejam enegrecidos firmamentos, púrpuros sóis arremessam lamentos de tangos, Buenos Aires a chorar em flautas desafinadas, rimas esparsas ao vento,

Sequazes desalentados de tua ausência, do musicado cadenciar de teus passos a esmagar flores abatidas na Primavera; na vitrola, um cantor de boleros enaltece, em versos, o esquecimento.

Preciso da âncora que os teus sonhos me jogam, para não naufragar no caudal de incertezas em que me lança sombrias divagações, resgatar-me destes ameaçadores sargaços destoantes.

Sem me encantar com o teu amor, sem mergulhar no doce sonho de felicidade ao teu lado, a vida perde o sentido, tudo em volta enegrece, perde todo o colorido.

Por isso, não te espantes, preciso muito que me encantes, que me encantes muito mais do que antes, que rias de tudo e de nada, que tu acordes inesperadamente de madrugada

A dizer que sonhaste comigo, que me queres sempre contigo. Ainda com olhos sonados, enredado nesta domiciliar redoma de encantamento, abraço-te sem precisar de mais nada.

Apenas preciso do encanto que o teu amor me dá; neste momento só nosso, abdico de inúteis palavras, a dizer do mais profundo de meu Ser que, sem você meu amor, a vida não tem o menor sentido.

A linha que separa a felicidade da tristeza é tão tênue que para ultrapassá-la não necessita mais que um simples direcionar da Vontade. Trabalhar a existência desses dois estados indissolúveis dentro de nós mesmos é fundamental para que vivamos harmonicamente conosco, e concomitantemente, com quem está em torno de nós.

Vale do Paraíba, manhã da terceira Terça-Feira de Novembro de 2009

João Bosco (Aprendiz de poeta)

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 07/04/2010
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