BICHO HOMEM
Eu sou aquele a quem deste o teu cuidado.
Do alto da montanha soltei meu grito
E me acudiu uma loba prenha no penhasco.
Virei bicho,me exauri de pensamentos,
Amei com os olhos,boca e pêlos,
Depois molhei os pés na nascente
E esperei o dia feito caça a espreita.
Alerta estava corpo e espírito,
Mas a alma vinha descuidada
E por trilhas que se perdem
Ficou a poeira de minhas pegadas.
Vieste por atalhos,precavida
de minha natureza desregrada,
Olhou em meus olhos,Diana supérflua,
Tentei fugir mas a flecha me alcançara
No instante do beijo com os olhos fechados.
Ferido de paixão,o coração sedado,
Rasguei com os dentes a alma artista,
Escrevi poemas em ventos errantes
Sem saber se louvava ou maldizia.
Em tudo meu amor lutava,
Contra tua paciência e zelo,
Cortou-me os cabelos,aparou-me as garras,
Ensinou-me modos de sentar à mesa,
Beijou-me na boca,me afagou os pêlos,
Brincou em meus olhos de fera acuada
E cantou-me canções de acalanto a tristeza.
Um dia,bem sei,com as portas abertas,
Tu,distraída a ler-me um romance,
Como a dizer:"Vá,estás livre agora!
Pode ir se quiser,olhos,boca e pêlos!"
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Saberei fazê-lo?