Prisioneiro do amor

Enrosco-me nas teias da solidão.

Pálpebras inertes, sonolentas.

Membros flácidos, aleijados

O mais desprezível dos amantes.

Mendigando teus carinhos escarssos.

Como gomos, aos bagaços.

Satisfaço-me com um abraço.

O mais miserável dos amados.

No afã medingante de um desprezado.

Satisfaço-me com as migalhas,

Beijos roubados, desmilinguidos.

Submeto-me aos teus caprichos.

E na espera agonizante dos restos do seu amor.

Como um lírio brotando do esterco.

Mantenho-me a esperar sorrindo.

Que me venhas tirar dessa fedentina agonia.

E nos momentos dessa agonizante solidão.

Refulgio-me na poesia.

A tentar dissipar magoas turvas

Dor dilacerante desse meu infortúnio.

Quiçá minha alma fosse autônoma.

Quiçá decidisse meu destino.

Deixaria a deriva esse corpo-nau.

Livrar-me-ia desse maldito desatino.

Qual nada, energúmeno deprimente.

Satisfaça-te nessas esmolas de carinho.

Sabedor que este amor que te aprisiona,

Sustenta-te vivo, como na gaiola vive o passarinho.