CÍCLICO

Há um quê de saudade na ruga que se alonga

há um frio antecipado que te encosta

indizível é o tempo de espera

e as flores mudam a cada estação.

Há um fio entre o riso e o olhar

há desejos cristais e festim

sem idade, coração anda à toa

e do anseio tua boca é jasmim.

Há uma face sagrada em teus ombros

há vestígios de amor no teu chão

a despeito das lágrimas de outono

há pujança nas cores da terra.

Há um regresso a cortejar o tempo

teus cabelos de neve são rendas

há ternura nos teus dedos frágeis

que alisam o meu sentimento.

Há nas fendas secretas passagens

há na boca o sagrado e o profano

é sublime a malícia da espera

e vontade é parte de ti.

Há mil notas em tuas canções

esperando alguém para ouvir

há um abrigo no peito mesclado

e dos atalhos, sem desapego, eis-me

_ a escutar o teu coração_poema.

Fatima Mota