Quando o silêncio toma conta de nós ...
Quando o silêncio toma conta de nós de uma forma total
Levitamos...
Apenas o fio de prata nos prende ao corpo material
E nosso espírito vaga perdidos pelos ares,
Etéreo, lânguido, buscando um só caminho:
Cortar distâncias que não mais existem
E chegar bem perto de quem por nós é amado...
- E ele nem percebe o risco que corremos...
Está lá – agora aqui! – sentado, sem nos ver...
Pensamento distante, querendo um só querer
Mas sem que a Vida lhe deixe perceber
Que a Paz que procura, só com a amada está...
Olhos perdidos no horizonte...
Pensando amores... Sonhando com uma fonte
Onde há amor inesgotável... E que agora,
Poderia estar fruindo...
Pensa talvez num rosto, ou num sorriso...
Sorri... E lágrimas escapam-lhe dos olhos
E vão formando a figura de uma flor...
Queria beijar estas lágrimas tão tristes,
Sorvê-las uma a uma, demonstrando meu amor...
Beijar-lhe o rosto, afagar-lhe a cabeça
E abraçá-la com ternura junto ao meu coração...
- Mas isto não é permitido aos espíritos que fogem
De seu corpo e não cumpriram ainda sua missão...
Sussurro seu nome bem baixinho,
Tento abraçá-lo, mas meu corpo levitando,
Não me permite, não...
Ele estremece e se arrepia:
- Será que sentiu a presença desta
Cuja lembrança lhe enche o coração?...
Volto. Antes que se rompa o fio de prata!...
Assumo meu corpo, que absorto estava,
Inerte, ante minha fuga da prisão...
- Estranho: trago duas lágrimas de prata
Que ainda estão úmidas na minha mão...