Canção sem exílio
De Edson Gonçalves Ferreira
Para Susana Custódio, Malubarni e Miguel Teixeira, Zé Albano,
Joaquim Evônio, Isabel Silvestre, Eugênio de Sá, Dulce,
Ivone Vairinho, Efigênia Coutinho, poetas e amigos leitores
Embarcação no rio Douro - Portugal
I
O Tejo não passa em Minas Gerais
Nem neva sequer tampouco em nossas majestosas montanhas
Elas são tão esplendorosas quanto as de lá
Onde não canta o sabiá
Só minh´alma gorjeia
Como gorjeia cá
Eu sigo sempre cantando
Para a vida encantar
Nunca vivi um exílio
Pois tenho duas pátrias amadas
Com uma língua tão linda
Que nos une como outra não há...
Edson no túmulo de Camões - Portugal
III
O Douro não banha minha Minas Gerais
O Sol doira, porém, todos os dias os céus de cá
Coloca tantas luzes e cores e amores
Que Camões, lá na eternidade, sente
Sente vontades de voltar
Para acrescentar em Os lusíadas
Tudo que aqui há
Ele não viu a riqueza desta terra
Onde eu canto sem parar
As cachoeiras que aqui sussurram
Não sussurram como lá
E os rios que cortam a minha cidade
São encantados pelas ninfas que não param de cantar
“Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá”...
Serra da Mantiqueira - M. Gerais - Brasil
IV
O vento aqui não chora entre muralhas e paredes dos castelos
Mas nas montanhas e nos vales da minha Minas Gerais
Ele geme ao passar em cidades pérolas
Incrustadas como jóias barrocas
Repletas de casarões históricos
Onde janelas e portas enormes se abrem
Com toda a pompa dos palácios de lá
E, quando a noite cai, Chicas da Silva e Bárbaras Heliodoras saem
Saem pelas ruas para embalar
A terra onde as palmeiras
São como cabelos das mulheres amadas
A terra onde as palmeiras
Parecem ter as mãos dos homens de cá
Sempre prontos para a ternura
Para a vida encantar...
Edson em Braga - Portugal
V
Aqui, em nossas casas, não, não há
Só um cacho d´uvas doiradas, duas rosas, um jardim
Nem existe só pão e vinho sobre a mesa
Quando alguém bate à porta
Senta-se com a gente como se senta lá
Só que se encanta com o perfume dos pães-de-queijo
E, ouvindo o vento sobre os canaviais,
Inebriado fica com a bebida deles extraída
O vinho mais transparente que há
E, depois, de se servir como rei ou rainha,
Essa gente começa até a voar
Tão leve pelo néctar da cana
Que torna os nossos lábios mais doces
E faz que tenhamos mais ouvidos
Para escutar o gorjeio do sabiá...
asil
Tiradentes - Minas Gerais - Brasil
VI
Quando a noite chega
“Nosso céu tem mais estrelas
Nossos bosques têm mais flores”
Mas nossas vidas se cruzam além mar
Se lá chora Inês, aqui chora Carolina
E, aos pés do leito derradeiro,
Nós, poetas, temos tal verve como têm e tiveram
Os poetas da terrinha encantada e amada do lado de lá
Onde não canta o sabiá, mas as guitarras choram sem parar
Parece que sabem que, do outro lado do Atlântico, eu não paro de cantar
Sou poeta luso-brasileiro apaixonado pelo fado
Embora dance o samba, nos dois enxergo o lamento
De quem deixou a alma se dividir
Entre aqui e lá...
Ouro Preto - M.Gerais - Brasil
VII
Portugal não é só lá
Há portugais dolentes como um fado
Nos umbrais dos solares barrocos e nas ruas tradicionais
Trazido pelos bandeirantes, encantado pelos imigrantes
Como os meus ancestrais que se encantaram cá
E, assim, quando os sinos tocam dolentes
Nas igrejas barrocas plantadas nas serras solenes,
Sabemos que a Virgem Mãe chora
Chora enternecida pelas preces das sertanejas
Que cruzando o oceano, chegam até o Portugal Profundo,
Onde Isabéis não param de cantar
Mostrando que há um Portugal aqui e um Brasil lá
“Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá”
Com a certeza de que a minha terra
È onde canta o sabiá
Mas dividido eu vivo e viverei
Entre guitarras e sabiás.
Divinópolis, 28.03.2010 – às 12h30min
FELIZ PÁSCOA, MEUS AMIGOS!
De Edson Gonçalves Ferreira
Para Susana Custódio, Malubarni e Miguel Teixeira, Zé Albano,
Joaquim Evônio, Isabel Silvestre, Eugênio de Sá, Dulce,
Ivone Vairinho, Efigênia Coutinho, poetas e amigos leitores
Embarcação no rio Douro - Portugal
I
O Tejo não passa em Minas Gerais
Nem neva sequer tampouco em nossas majestosas montanhas
Elas são tão esplendorosas quanto as de lá
Onde não canta o sabiá
Só minh´alma gorjeia
Como gorjeia cá
Eu sigo sempre cantando
Para a vida encantar
Nunca vivi um exílio
Pois tenho duas pátrias amadas
Com uma língua tão linda
Que nos une como outra não há...
Edson no túmulo de Camões - Portugal
III
O Douro não banha minha Minas Gerais
O Sol doira, porém, todos os dias os céus de cá
Coloca tantas luzes e cores e amores
Que Camões, lá na eternidade, sente
Sente vontades de voltar
Para acrescentar em Os lusíadas
Tudo que aqui há
Ele não viu a riqueza desta terra
Onde eu canto sem parar
As cachoeiras que aqui sussurram
Não sussurram como lá
E os rios que cortam a minha cidade
São encantados pelas ninfas que não param de cantar
“Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá”...
Serra da Mantiqueira - M. Gerais - Brasil
IV
O vento aqui não chora entre muralhas e paredes dos castelos
Mas nas montanhas e nos vales da minha Minas Gerais
Ele geme ao passar em cidades pérolas
Incrustadas como jóias barrocas
Repletas de casarões históricos
Onde janelas e portas enormes se abrem
Com toda a pompa dos palácios de lá
E, quando a noite cai, Chicas da Silva e Bárbaras Heliodoras saem
Saem pelas ruas para embalar
A terra onde as palmeiras
São como cabelos das mulheres amadas
A terra onde as palmeiras
Parecem ter as mãos dos homens de cá
Sempre prontos para a ternura
Para a vida encantar...
Edson em Braga - Portugal
V
Aqui, em nossas casas, não, não há
Só um cacho d´uvas doiradas, duas rosas, um jardim
Nem existe só pão e vinho sobre a mesa
Quando alguém bate à porta
Senta-se com a gente como se senta lá
Só que se encanta com o perfume dos pães-de-queijo
E, ouvindo o vento sobre os canaviais,
Inebriado fica com a bebida deles extraída
O vinho mais transparente que há
E, depois, de se servir como rei ou rainha,
Essa gente começa até a voar
Tão leve pelo néctar da cana
Que torna os nossos lábios mais doces
E faz que tenhamos mais ouvidos
Para escutar o gorjeio do sabiá...
asil
Tiradentes - Minas Gerais - Brasil
VI
Quando a noite chega
“Nosso céu tem mais estrelas
Nossos bosques têm mais flores”
Mas nossas vidas se cruzam além mar
Se lá chora Inês, aqui chora Carolina
E, aos pés do leito derradeiro,
Nós, poetas, temos tal verve como têm e tiveram
Os poetas da terrinha encantada e amada do lado de lá
Onde não canta o sabiá, mas as guitarras choram sem parar
Parece que sabem que, do outro lado do Atlântico, eu não paro de cantar
Sou poeta luso-brasileiro apaixonado pelo fado
Embora dance o samba, nos dois enxergo o lamento
De quem deixou a alma se dividir
Entre aqui e lá...
Ouro Preto - M.Gerais - Brasil
VII
Portugal não é só lá
Há portugais dolentes como um fado
Nos umbrais dos solares barrocos e nas ruas tradicionais
Trazido pelos bandeirantes, encantado pelos imigrantes
Como os meus ancestrais que se encantaram cá
E, assim, quando os sinos tocam dolentes
Nas igrejas barrocas plantadas nas serras solenes,
Sabemos que a Virgem Mãe chora
Chora enternecida pelas preces das sertanejas
Que cruzando o oceano, chegam até o Portugal Profundo,
Onde Isabéis não param de cantar
Mostrando que há um Portugal aqui e um Brasil lá
“Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá”
Com a certeza de que a minha terra
È onde canta o sabiá
Mas dividido eu vivo e viverei
Entre guitarras e sabiás.
Divinópolis, 28.03.2010 – às 12h30min
FELIZ PÁSCOA, MEUS AMIGOS!