Paixão em taça de poesia
Vasculho meus recantos a procura de vestígios seu
Não perguntes porquê o busco
Não saberia responder com exatidão
É um emaranhado este caminho que hoje trilho
Quero desvencilhar-me deste fantasma
Que ainda deita ao meu lado sussurrando fantasias
Destas que coloca qualquer ser em um pedestal
Por vezes parece tão real que chega a me confundir
Mas se abro os olhos e chamo por ti
Escuto meu próprio eco perdido no escuro
Imagens borradas, gestos amorfos
E guardo as palavras não ditas no relicário
Não são pedidos de desculpas,
Não me envergonho de ter-te amado
Mas existe aqui em meu santuário
Uma dor estranha de um amor depauperado
- mais uma noite de insônia -
E enquanto o dia sobe vertical
Eu desfaço nós, fecho os ouvidos
Visto um sorriso amarelo
E feito lua me disfarço num gemido
- reticências deste memorial –
Até que a noite venha semearei palavras ao vento
Na esperança de colher uma que faça jus
Para dar um final feliz a esta história
– desapaixonar é uma arte -
Porque quando finda uma paixão
- e finda sempre de uma só parte –
O tempo vai ensinado a recomeçar cada dia
E nos mostra que saudade é um espaço vago
Que pode ser preenchido por qualquer coisa
Um bom vinho, um livro e uma taça de poesia.