Síndrome de São Tomé
Síndrome de São Tomé
Ao nos entregarmos a um amor fechamos as portas para tudo o que há no mundo, para, inversamente, nos expandir dentro do Universo do amor que vivemos - um amor intenso e febril.
Custou-me, deveras, infinitas noites de insônia, até vir a crer, plenamente, em tua existência (tomar ciência de que não és fruto de meus sonhos, outonais sonhos de um tardio menestrel).
São Tomé irresoluto, recém-chegado de pesado luto, não quis dar a devida crença às muitas evidências de teu querer; rechaçava, como impossíveis, tuas demonstrações de carinho (escudava-me em armadura de fel).
Foram muitas idas e vindas, desencontros como uvas em cachos, céus carregados de nuvens pesadas, até que viéssemos a encontrar a sintonia mais fina, até que acreditássemos tripular o mesmo navio.
Hoje, como privilegiados amantes, navegamos merecidamente em um límpido mar de almirante, deixamos, para trás, inúmeros percalços – persistentes entraves, fechaduras difíceis de abrir.
É, para mim, uma inesperada dádiva, ver-te transudar alegria, seguir teus graciosos passos miúdos, beber de teu riso, antídoto seguro prá afastar esta minha nostalgia, insistente sombra a me acompanhar.
Muitos amores vivi. A todos me entreguei com fervor e desejo, não cometi o infame sacrilégio de amar por metades. Mas tu, com maneiras de menina, mostraste-me o que é amar de verdade - amar sem tergiversar.
Não há como não crer que me amas. Todas as minhas dúvidas dissolvem-se quando me beijas, teu corpo queimando em chamas, tuas vestes sumindo num passe de mágica, atraindo meu corpo prá ti.
Divirto-me a te ver correr a cerrar as cortinas, a preservar nossos mais íntimos momentos, a reter, só prá nós dois, esta paixão visceral (Tens razão. Não se deve expor nosso amor; não haveria explicação prá nossa fome animal).
Quando fazemos amor esqueço toda a tua inconsistência; apenas degusto de ti, amando-te com infinita reverência. Milhares de anos depois, as mesmas imagens desfilam por minha cabeça, dotadas de cores e sons.
Por mais que eu descreva, por mais poemas e crônicas que eu escreva, nunca chegarei a expressar o inusitado de minha vivência contigo; o delicioso calor de teu abraço, os teus gestos mais simples e o teu dengo fora de tom.
Ainda guardo comigo o sabor do nosso primeiro beijo, um chocolate a incrementar nossas tardes, e, finalmente, estes pedaços de mim que carregaste em teus dentes deram-me a certeza de não és Ilusão – és uma mulher bem real.
Até encontrar-te, não mais acreditava num amor de tamanha magnitude, de tanta entrega. Por isso resisti tanto a crer na intensidade do sentimento com que sempre tu me premiavas. Hoje, sei que és uma pessoa muito especial, última representante de uma categoria de seres que não mais existe por aqui. És um anjo a viver entre nós.
Cidade dos Sonhos, madrugada de Segunda-Feira, final de um maravilhoso mês de Março de 2010
João Bosco