Tempestade
Tempestade
Bate forte o vento assobiando,
As árvores curvam-se rangendo o tronco
Num lamento rouco e impotente,
Folhas e mais folhas caem
Carregadas sem destino,
Inclina-se ao chão,
Num bailado manco,
Tufos de capim flecha,
Pirilampeiam raios e relâmpagos em ziguezague
Pelo céu abismal
E as turvas e agitadas águas,
Como se revoltadas em infindas mágoas,
Se vão mui perigosas jorrando,
Jorrando às matas se vertendo;
Ouve-se vago murmúrio solto
Pelo ar gelado que se vê envolto
Pelo dito forte assobiar do vento.
Aí esta: essa é a cólera do tempo,
Dominador, avassalador, real majestade
Que a tudo desafia e controla
É a mesma cólera do amor apaixonado,
Insaciado, de correspondência incerta,
Insano, imprudente, ansioso,
Carregado de desejos ardentes e incontroláveis,
Que agora me inquieta e anula
Qualquer raciocínio lógico.
Aí esta: esse é o rei dos sentimentos em flor,
Que tanto me motiva, excita, arrouba e amola!