Idolatria

Seu olhar que não fita nem a sombra da minha imagem,

Afoga-me em tempestades que me absorvem e dão vazão,

Revivendo sem sentido a dúvida de ser ou nao,

Sei que é ele que desenha ao longe a minha paisagem.

Com todas as unhas cortadas, me prosto, domada fera,

E ajoelhada aos teus pés, altar da minha rendição,

Fico a adorar as feridas incumbidas desta submissão,

Dor que estimo com a paixão que em meu coração impera!

Seu trono é irrevogável em meus nórdicos domínios,

Mas sofro os desmandos de seu poder controlador,

Sorvendo com voracidade cada gota do seu amor,

Como se com elas pudesse alimentar os meus fascínios.

Destroí-me gradualmente esta idolatria, ou vício,

de ter aos meus ouvidos o seu timbre entorpecente,

Suscetível ao seu som, é meu corpo, alma e mente

Satisfaço-me completamente em ser teu sudíto vitalício!

Porém eu sei, que em seu reino meu lugar é o vazio,

E eu estou sempre distante de ocupar a sua cama.

O reencontro é um privilégio único pra quem ama,

Desde que sobrevivam às noites de imensurável frio.

Priscila Neves
Enviado por Priscila Neves em 17/03/2010
Reeditado em 22/11/2010
Código do texto: T2144357
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