O poeta nunca morre

=O Poeta Nunca Morre=

A escrivaninha empoeirada

No canto adormecido

A caneta, o caderno,

E um bilhete esquecido.

Ao lado da porta,

Um homem, já grisalho,

Com seu olhar perdido

Amarga a dor da saudade.

As gotas de chuva

Salpicando a vidraça

São como um coração pulsante

Num corpo sem vida.

O homem resmunga e chora...

_Porque não esperastes

O crepúsculo de sua existência?

Fostes assim tão de repente,

De presente deste-me a solidão.

É poeta,

Que triste fim tivestes!

Brincastes com palavras e versos,

Falsos e belos amores,

Dominaste o universo,

Mas não fostes o senhor da vida.

Perdoe-me poeta, vou ler seu bilhete,

Aqui esquecido,

Quem sabe estarão aqui suas últimas lamúrias,

De um homem mortificado

Implorando pela vida.

****

“Meu amigo,

Sei que um dia virá visitar-me.

Aqui, talvez, não mais estarei,

Vou vadear pelos caminhos

Que na vida eu trilhei.

O poeta nunca morre,

Espalha-se pelas estrelas.

Estarei nos versos e universos

No sorriso que conquistei

Nas lágrimas emocionadas

Que tantas vezes compartilhei.

Conquistarei a liberdade

Dos sonhos que são meus

Buscarei em outras paragens

Lugares lindos que desejei.

Serei sério, bandido e romântico!

Estarei no apogeu da carne,

Mais presente que o humano.

E levo daqui a saudade.

Partir-me-ei, oh morte!

Vou sem lhe dizer adeus,

Deixo pra ti, minha inútil carcaça,

E este sombrio lugar

Que de agora, é todo seu.”

TONHO TAVARES

Já publicada no recanto.

ANTÔNIO TAVARES
Enviado por ANTÔNIO TAVARES em 15/03/2010
Código do texto: T2139953