Queria Saber...

Queria saber o que te encerra

Em estranhos labirintos e castelos

Feitos de tantos sonhos singelos,

De psêudos-conceitos e quimeras.

Queria saber o que mais te agrada,

O que seria para ti motivo de alegria:

Se o amanhecer rosado do novo dia

Ou uma filosofia pegajosa e barata?

Queria saber o que mais te abomina,

Aquilo que te fere deveras e te mata:

Se a falta de bordados nas entrelinhas

Ou o excesso de hipocrisia na fala?

Vejo-te como uma grega e antiga estátua:

Nariz refinado, dedos imortais, cinza e fria.

Às vezes vejo-te como uma porcelana rara,

Uma jarra bem trabalhada e bem esculpida.

Porém pobre de-marré-de-si e vazia,

Oca, sem água ou outro tipo de líquido.

Talvez seja esse o motivo.

Eu não sei. Eu não sei.

Talvez seja um quadro de Dorian Grey,

Um espelho de maga malvada da Disney

Ou quem sabe um rio refletindo Narciso.

Tomara que um dia te nasça florido.

Que amanheça sorrindo e chamando

Os bichos de amigos

E de amor.

Que o caminho, mesmo comprido,

Seja um imenso pássaro sonhador

Que te leve pelo espaço infinito

Para além da linha do Equador

Onde moram as plantas gigantes

E sol se esparrama pelos terrenos amarelos,

Onde são mais bonitas as montanhas e manhãs

As borboletas mais assanhadas e mais gostosas

As romãs.

Espero que possa quebrantar esses elos,

Essas espessas correntes que te prendem

Em castelos

De estranhas geometrias e de pesadas rochas.

Faço votos que em teu colo acendam as tochas,

Em lenhos, exalando oásis no teu triste deserto

Para que teu espírito opaco receba refrigério.

Que o Cupido fleche as fibras do teu peito

Acendendo luzes no quinto ciclo do teu inferno.

Removendo os limos e as lápides do teu leito

Submerso no mais fétido e obscuro cemitério.

Gil Ferrys
Enviado por Gil Ferrys em 11/03/2010
Código do texto: T2133280