O dia que te vi
À Joyce Leal
Soneto I
O céu hoje está pesado,
E a chuva lá fora rebenta,
A ansiedade me esquenta
Deixando-me animado.
Prejulgamos um contratempo,
Nosso encontro seria proletado,
O universo parecia desvairado
Querendo nos impedir a tempo.
Só que antes da gente se encontrar,
O mundo inteiro precisava se alinhar
A fim de evitar um cataclisma.
Vejo que a chuva virou sereno,
E o clima lá fora mais ameno
Passa a mostrar seu carisma.
Soneto II
Nossas almas fizeram um contrato
Antes mesmo de nos conhecermos,
Sem estabelecer muitos termos,
Apenas aceitando o que é fato.
A natureza se viu imunda
Diante da nossa comunhão...
E rogou por uma purgação
Para sua tristeza funda.
A terra se lavou em pranto,
E depois entoou um canto
Para toda a ordem que nos via.
Nossos olhares se cruzaram,
E um pelo outro arfaram
À profusão que entre nós havia.
Soneto III
Ver-te assim ao meu lado,
É contradizer uma impossibilidade,
Mesclar o onírico à realidade
Sem haver nada de errado.
Comedido eu te contemplava...
E meio apreensivo me consumia,
Algo por dentro me contorcia,
Uma multidão em meu peito se agitava.
Reduzi-me a ações retraídas,
Ainda sinto bem as feridas
De agir pela impulsividade.
Não sei se pessoalmente lhe agradei,
Mas eu certamente me impressionei
Com a grandeza da tua humildade.