Estátua
Eis a intimidade de um gesto,
tão áspero de silêncios.
Jato de luz que deslumbra
a solidão dos homens.
Recompõe os objetivos
dispersando- os no tempo.
Indócil como o vento,
pleno como o sol.
Eis a cavidade um grito.
Frágil como um verso não escrito.
Feito uma fria estátua,
acima da noite,
através do exílio.
Convocando acasos,
despertando ventres.
Puro como o útero,
rico como o sal.
Eis a eternidade de um sonho.
Solidário como a prece,
seja de fora ou durante
o intervalo dos sentidos.Pétalas retidas
que alguém pressente e recolhe
e guarda para encurtar as noites
e acalentar os sonhos que criamos todas as noites,
antes do adormecer.
Acordados completamente,
tragicamente acordados.
Marilia Abduani