Passagem
Quisera, eu rúbia, ser casta ainda,
singela como teu perfume me anuncia
erguer-me sobre umbrais ornados
de almas e vultos sejam tecidos meus beijos
Quisera na curva mais sinuosa
encontrar-te, um dia, qual menina secreta
escrevendo nos muros e portas
entrelaçando nossos nomes e medos
Mas o que sou, senão tua?
Se viver sem tí é meu fardo
sozinha em nuvens de afagos
e gotas salgadas de angústia
O que serei para sempre?
Se tua eu não for, morrerei
aos poucos nestes umbrais negros
despir-me das vestes do amor
E em fagulhas de tempo, gritar
teu nome com meu sopro mais tenso
afogar-me na lembrança dos olhos teus
e consumir-me, inteira, nestes tormentos!