Preso em masmorras...

Meu pecado é me lançar ao vale

Num orvalho ansioso me ferindo

Como se além de mim tudo sangrasse

Nas curvas que me apavoram nas noites

Um breu de sombras torpes.

Sob meu corpo

Em meu corpo

O vento passeia entrando escondido pela fechadura

Beijo a face de meu amante

Na bruma do passado

E o som de sua voz se perde com o tempo

A luz de seus olhos em lembro das cores

Nem mesmo no jardim via eu as flores

As paredes gastas, descascadas pela dor

E meus joelhos arranhados e minhas costas nuas

Nestas masmorras que descortinam meu segredo

Neste aprisionamento que em meus delírios solto nas marés...

“Fulguras ó Brasil florão da América...

Iluminado... Iluminado eu ao som de seu chicote...

E vestidos degotados... De sorrisos desabotoados...

A vela de cama bifurcada, dança no colorido de minhas lembranças...

Danço eu e dança você

Nestas nuances sobre a cama com lençol de cetim, de um azul quase céu

E eu seu... Sorvendo a vida em vinho...

Vinho como sangue

Sangue negro de reis.

Assombrado com tua beleza

A luz ofuscava minhas feridas que teimavam em escorregar das vendas

Pano tosco que impediam meu vôo...

Ser de pele morena com trejeitos de deusa...

Imaginária que suprema me fazia cair por terra

E voltava como cachorro a abanar a pouca dignidade que restava

À espera do afago entre as orelhas

E tapinha no alto da cabeça...

Cabeça de corpo sedento ruminando mil maneiras

A comprometer sua forma em jogos de sedução...

Ilumina minh’alma

Produz em mim o suor da satisfação...

Doces lábios de mel que me suga em doses

Doses de fluído em som

Som em mi

Som em ti

Na orquestra de meus gemidos sob as unhas lancinantes

Que cravam em meu peito e você preso às costas...

Submisso ao teu cheiro

Sensações de um sol ao meio dia

Na verdade quase cega

Que o amanhã e a tarde sejam fruto do acaso

O que importa é estar nesta cela

Tão pequena a verdade

que embriaga este estado da mentira

que me faz acreditar que tudo que me oferece agora

irá pelo tempo perdurar...

Acorrentado em seus braços

A saciar minha fome

A receber teu prazer!

Poetha Abilio Machado. (fevereiro2010).