É FLOR...

É FLOR

Lá se foi a casa, o quarto

Lá se foi os objetos, os dejetos

La se foi amigos

Lá se foi pai, o filho

Lá se foi o grande amor

Lá se foi o possível amor

Lá se foi até Jó,

Jó não suportaria

Nem em pedras, nem em sal

Nem em fogo, nem aos leões

Ah! Flor de tantos outonos

A flor andante que exubera

Com folhas verdes

Cega, cega vermelha

Em sua seiva destila

Restos de beijos de borboletas

Borboletearam dançaram

Pisaram pétalas

Mas em braços impunha-se

Abraços, em carícias

As delícias

Ah! Flor de tantos outonos

Mastigou as perdas

Pra ela, quase nada

Pela força tamanha

Do corpo, do caule

A flor que carrega a Terra, as raízes

No peito aberto dos perfumes

II

Ah! Flor de tantos outonos

Lá se foi o pássaro,

aquele do beijo, beija-flor das manhãs

Mas de quebra, deixou a asa

Asinha de carne e seus cabelos,

junquilhos d’ouro e o vivo sangue

De amor, de beleza nos veios

Artérias, um aneurisma doce

Fruto cuspido, mas pra sempre

A semente criança da mãe-floreira

Ah! Flor de tantos outonos

Jó se afastaria dessa tamanha flor

Que não fenece, exala esperança

Na cidade de ninguém, ninguém

Pois lá se foi o castelo

O Rei, exércitos e infantes

Lá se foi o broto, a semente

Lá se foi tudo, o inimaginável

Ah! Flor de tantos outonos

Não seca, não cai

Dentro de tantos ais aos Deuses

Aos homens, grandes e pequenos

Escora muros, paredes

Sem ser plástica, objeto

Não se entrega às ervas daninhas

Não deixa ser comida, devorada pelos males

Ah! Flor de tantos outonos

Escorre sangue, verte água

Chora e alimenta-se

Do próprio óleo da lágrima

Sem ver o sol que tanto esperava

Sem sentir a chuva da benção

De ser arrancada e levada

aos altares, à cama dos amantes

A terra prometida, a promessa

reversos de corpos, caules

a fazer delícias

Ah! Flor de tantos outonos

Sonho em desfrute de sexo e amor

Pela mão de um só homem

caule que entrelaça másculo

Do sonho da infância

Aquele da velha juventude

Que dirá, quem sabe,

Da outra existência (?)

Aquele que a deixou crescer

Nos labirintos do sentimento maior

Antes, durante e depois

Em lamento de amor

Que lá não se foi e não se vai...

Pra ser apenas nua flor

Despojada que brilha

Nas noites

E amanhece

permanece

Para crer

Cíntia Thomé

"Posso Tudo Naquele que me Fortalece..."

Cíntia Thomé
Enviado por Cíntia Thomé em 12/02/2010
Código do texto: T2083777
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