Reverberações

Onde é o recomeço do caminho que perdi?

Como é que não te esqueço desde o dia em que te vi?

Ou será que o teu início é o fim da minha estrada,

ou será que inicio com o fim da caminhada?

Como pedes a certeza que não posso te ofertar,

com a tua sutileza de querer me provocar

ao lançar o teu olhar que é austero e mau talvez,

mas do qual eu não tolero me afastar durante um mês,

ou um ano, ou uma vida? Teu olhar é mesmo assim:

ele abre a ferida que não vai fechar no fim.

Teu semblante me enlouquece quando chegas a chorar.

Vou fazendo muita prece pra que não possas parar.

Isso só me envaidece se descubro que fui eu.

Quem me dera tu me desses toda hora o que me deu.

Eu reclamo da insolência do frescor do pôr-do-sol

que me traz a tua ausência que escondi sob o lençol

só pra ver se aparecias quando eu te descobrisse

pra fazer o que querias que eu fizesse e que te disse

que seria uma tolice – todo o teu corpo beijar,

mas que dessa maluquice não iria me furtar.

Minha vida é a certeza que te quero à exaustão.

Tu me matas de beleza, tu me matas de paixão.

O sabor da framboesa e da flor a afeição

é o que deixas sobre a mesa pra depois da refeição.

Tu decoras nossa sala com teu jeito irreverente.

Tu me xingas e me calas se não sou obediente

pra querer após o almoço só o que tu sabes me dar

e curtir num alvoroço até à hora do jantar.

Mas agora o que pressinto é que preciso terminar,

pois senão tudo o que sinto não vou ter onde botar.

Sei que tu não te comoves com o que escrevo ou te falo,

mas ainda que me olhes com desprezo, não me calo.