Já tive mulheres…

Que eram sombras

E que me quiseram tornar numa delas

Amavam a luz

Que diziam eu possuir

E numa dilacerante dialéctica

Tentavam agarrar essa luminosidade

Para escaparem ao seu reino sedutor de escuridão

E quem sabe

Alcançarem uma espécie de Imortalidade…

Que amavam as minhas palavras

Pedindo-me para as repetir para elas

Para elas darem ao seu apaixonado

Achavam-me sedutor

Mas não para estar a seu lado

Apreciadoras da minha carne

Sem tempo

De saborear

O que tenho de mais valioso

A minha alma

Prazeres indescritíveis

De uma indizível ternura

A carne pela carne

Ou uma osmose sexual

Em que a noite era a rainha

Onde a magia funcionava

Mas perante o dia

Tudo se desvanecia

Nada para sempre

Era igual

Carentes de afecto

Transitório

Que depois

De o sorverem de mim

E se preencherem

Deixavam-me

Indo para outros

E que voltavam

Cada vez que a fome de sensações apertava

E as desorientava

Usando-me

Como uma mera fonte

Onde tudo tiravam

E nada deixavam

Usando-me

Como um mero objecto

Amantes do meu estranho espírito

Da minha dualista reclusão

Das minhas asas

Das minhas estrelas

Dos meus mundos

Da poesia que vertia

Em histórias quase infinitas

De uma infinita paixão

Até da minha tão particular fisionomia

Do meu quase todo

Mas ao verem

A sua real dimensão

A forma portentosa

Como percepciono

E recrio o que sinto

Se afastaram

Talvez assustadas

E por terem percebido

Que não sabiam

Nem saberiam

Lidar comigo

Deixando pelo caminho que leva ao infinito

Esse Amor

Algures

Deixando-me à procura

Da silhueta

Que sobre mim

Para sempre projectaram

E esse foi

E é o seu legado

A imagem de um futuro hipotético

Onde os 2 poderíamos ter sido 1

A imagem

A recordação

Que transportarei comigo

Até alcançar

O meu descanso final

Nas minhas Planícies da Imensidão

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 07/02/2010
Código do texto: T2074175
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