Já tive mulheres…
Que eram sombras
E que me quiseram tornar numa delas
Amavam a luz
Que diziam eu possuir
E numa dilacerante dialéctica
Tentavam agarrar essa luminosidade
Para escaparem ao seu reino sedutor de escuridão
E quem sabe
Alcançarem uma espécie de Imortalidade…
Que amavam as minhas palavras
Pedindo-me para as repetir para elas
Para elas darem ao seu apaixonado
Achavam-me sedutor
Mas não para estar a seu lado
Apreciadoras da minha carne
Sem tempo
De saborear
O que tenho de mais valioso
A minha alma
Prazeres indescritíveis
De uma indizível ternura
A carne pela carne
Ou uma osmose sexual
Em que a noite era a rainha
Onde a magia funcionava
Mas perante o dia
Tudo se desvanecia
Nada para sempre
Era igual
Carentes de afecto
Transitório
Que depois
De o sorverem de mim
E se preencherem
Deixavam-me
Indo para outros
E que voltavam
Cada vez que a fome de sensações apertava
E as desorientava
Usando-me
Como uma mera fonte
Onde tudo tiravam
E nada deixavam
Usando-me
Como um mero objecto
Amantes do meu estranho espírito
Da minha dualista reclusão
Das minhas asas
Das minhas estrelas
Dos meus mundos
Da poesia que vertia
Em histórias quase infinitas
De uma infinita paixão
Até da minha tão particular fisionomia
Do meu quase todo
Mas ao verem
A sua real dimensão
A forma portentosa
Como percepciono
E recrio o que sinto
Se afastaram
Talvez assustadas
E por terem percebido
Que não sabiam
Nem saberiam
Lidar comigo
Deixando pelo caminho que leva ao infinito
Esse Amor
Algures
Deixando-me à procura
Da silhueta
Que sobre mim
Para sempre projectaram
E esse foi
E é o seu legado
A imagem de um futuro hipotético
Onde os 2 poderíamos ter sido 1
A imagem
A recordação
Que transportarei comigo
Até alcançar
O meu descanso final
Nas minhas Planícies da Imensidão