SERENO MAR DA ALMA
Pensativa, meu bem querer
Se diz por vezes enciumada
-Por quem sonhas. Quer saber
A eterna e doce namorada
-Nem sempre sonho contigo
Viçosa flor do jardim
O sonho me leva, e eu o sigo
viajo por dentro de mim
Desgarrado, voando o pensar foge
E voar me arrebata
O sonho me livra do hoje
Desse imenso deserto que mata
No sonho divaga o pensamento
Mais veloz que a própria idéia
Qual borboleta ao vento
Segue em frente, não volteia
Na solidão do sonhar
O amor; enlevo da alma e encanto
Pôs-se a perguntar
Porque amar tanto
Se tanto não há para amar
Meus olhos turvaram na dor
De pensar aflito tão triste
Seria esse sonho sem cor
Pesadelo, troça ou chiste?
Navego no sereno mar da alma
Sem me importar com as procelas da vida
Em tranquila noite de calma
Onde o ócio premia a lida
Sonho um mar tranquilo
Sem vento, sem onda sem nada
E vejo a luz de um porto seguro
A luz é os olhos de minha amada
Dizendo que posso atracar
Em sua arenosa praia
Deixando para trás; no mar
Temor qualquer que me traia
Olhar de carinhos que ameigam
Folgo só de ver seu semblante
Sua força vem daqueles que navegam
Salvam eu, esse naufrago errante.
Desperto ao ouvir seu queixume
Mil vezes murmurado
Que o amor somente não une
Sorrio, a união é o amor disfarçado.