Presença
Eu deixarei que viva em mim
o anseio de tocar teus olhos
(que são plácidos)
Porque egoísta
quero roubar o teu sossego
(com sentimentos drásticos)
E, a tua ausência
é qualquer coisa como a vaga
E, já não sinto em meu gesto referência
a tua efervescência
e em minha voz coerência
(tua potência)
Te quero ter
Porque em meu ser tudo é finado.
Então, não surja pra mim
com um afeto bastardo
Para que não tenha que lavar
esta alma amaldiçoada
Que ficou sob minha carne
Como juízo passado
Não te deixarei ir
Pois tua face cabe a minha face
Teus dedos são de meus cachos
e teu desabrochar pertence aos meus anseios
Logo, saberás:
quem te tocou fui eu,
(porque te trouxe luz a intimidade)
Porque abracei teu silêncio
e ouvi sua prece fervorosa
E meus dedos enlaçaram teus dedos
Ante o conhecimento de uma esperança
(tão mimosa...)
E eu trouxe até ti
a recôndita essência de tua procura
(tão bem guardada)
Eu ficarei só, como a luz alva
na infinita imensidão de noite
Mas por já ter-te sentido
poderei partir
E as lamentações
das mãos, dos olhos, dos ouvidos, da boca, da alma
Sereis vós ausente,
Vós presente,
Em mim,
Vós para sempre.