O Nosso Inverno (Nuclear) - Poema baseado num sonho -
Era algo que pairava sobre nós
Como uma sombra teimosa
E persistente
Que não havia forma
De se evanescer
De se dissipar
Foi então que aconteceu
O que mais temíamos
O Nosso Inverno (Nuclear)
Porque o nosso todo
Era indivisível
Era um núcleo
Constituído
Por diferentes sensações
Diferentes emoções
Onde predominava o amor
O qual usávamos
Por prazer
Mas também para infligir dor
Tensões acumuladas
Em palavras pensadas
Mas nunca ditas
Eternamente adiadas
E o núcleo
Que não se queria dividir
Começou a irradiar
Uma perigosa radiação
Que nos turvou os sentidos
Nos roubou a razão
Rebentando por fim
Num Dia dos Dias
O que mais temíamos
Um Inferno
Um holocausto
Nuclear
Sensitivo
Onde depois dele
Jamais poderia voltar
A estar contigo
Pois eu era o teu bem mais precioso
Mas de igual forma
Pior inimigo
Uma tempestade horrível de fogo e cinzas
Que não nos matou
Mas pior do que isso
Incinerou
O que sentíamos um pelo outro
Deixando que as trevas
Predominassem sobre a luz
Deixando que a ternura se extinguisse
E depois dela
O que demais existe…?
E hoje
Não sei como estás
Não sei o que sentes
Eu…
Eu vivo entre as tais cinzas
Do nosso sonho comum
Que cobrem e esterilizam
Os meus afectos passados e presentes
Eu vivo no lado negro do amor
Sentindo
Que não há nada de mais assustador
De mais perturbador
Vivo bem dentro do que nada restou de ti
Tento reconstruir
Um novo mundo
Tento que as minhas lágrimas
Voltem a ser claras
E não negras
Tento estabelecer
Uma nova ordem
Novas regras
Tento divisar
Um futuro
Tento
Que os sonhos
Possam ressuscitar
Tento esquecer esse dia tenebroso
Em que se deu
O Nosso Inverno (Nuclear)