AMOR E DOR NA MESMA RIMA
(Cânticos de um Brasil)
Conta-se na cantiga da gente antiga; que na pedra de olhar,
A negra Laurinda, sentava-se e aguardava, dando-se a chorar;
Negra faustina, que já há muito, vivia, olhava laurinda com ar
De pena, não a pena qualquer, mas sim a pena de cismar;
Dizia; as outras que com ela de há muito vivia: queda o mar,
Que laurinda, esta querendo, na costeira se lançar,
Rogo ao pai, que guarda; que esta menina, não perca o amar,
E deixando de amar, pare de chorar e da vida faça endoidar,
E morra ainda viva, pois, tanta solidão é de fazer calar
Até o falante Bem-te-vi, que grita de manhã até o tardar.
Mas, (pensava!). Bem – te – vi, tem companheiro e laurinda só tem o pesar;
Da solidão daquele amor perdido antes de começar:
Negro clemente, altivo e valente que ficou no dilacerar
Da corrente, morto antes de casar. Laurinda fez-se alvoriçar,
É negra fugidia, filha de quilombo, que pranteia a dor de tanto penar
Olhos no mar; olhos de procurar; seu amor lançado ao mar
Por mãos de inclementes, a feitura de espinhos de fincar
Coroa do senhor, lançado na cruz, santo rei de cantiga de ninar
Laurinda, ainda chora e se tu caminhar; no caminho do mar,
Beirando a costeira, olhando para o alto, há de chorar
Ao ver que laurinda é ainda viva e bonita, feito a pedra de olhar
De aonde se vê as montanhas e todo o belo cerco do eriçar
Das ondas no quebra mar, e há quem diga é clemente a nadar
N’um nado que nunca há que terminar! Coisas do amor, coisas do amar...
foto: RABE - Saco da Raposa - Ubatuba - SP
O quilombo da Caçandoca, esta localizado na cidade de Ubatuba - SP, na praia da Caçandoca e Caçandoquinha, estendendo-se até o saco da Raposa. Os idosos do lugar estão deixando paulatinamente a vida de cá e logo, logo, seus arquivos de histórias, serão apenas estórias. Minha saudação a negra Rosária, minha bisavó!