Dueto (Corpo e alma)
Dueto (corpo e alma)
Minha alma gêmea não sabe direito o quer...
Como alma que é, deveria ser fundamentalmente etérea;
Mas é uma alma ainda nova, tem umas maneiras demasiado aéreas,
É uma alma ainda criança, aprisionada dentro do corpo de uma linda mulher.
O meu amor, com seus desejos de carne e osso a minha alma confunde.
Impossível mantê-la quieta: mesmo lhe admoestando não ser a hora mais certa,
Essa alma danada força, querendo avançar o sinal, colocando minha alma gêmea em alerta.
Minha alma perde a cabeça quando sente meu beijo em teu pescoço - voa desesperada no cheiro do teu perfume.
Vivo pedindo calma a minha alma, quando de minha alma gêmea perto ela está. “-Não faça besteira, alma minha, vê se vai mais devagar.”
Sussurro prá minha alma gêmea não escutar. O corpo-veste de minha alma gêmea, olhos graúdos de menina ingênua, pleno de curvas fatais
Despe as defesas de minha alma, deixando o meu corpo sem paz. Explico a minha alma ansiosa que em teu corpo ela não pode entrar – estes são processos carnais.
Minha alma suspira invejosa, saboreia teu beijo lascivo, encoraja meu corpo indeciso a teu corpo sem pressa tomar.
Que situação complicada. Minha alma gêmea se recolhe assustada: lançando-me um desamparado olhar lateral.
Que vontade de te carregar no colo, deixar você toda nua, casar minha alma com a tua prá essa discrepância findar.
Dar finalmente sossego a minha alma, juntar alma e corpo num só, acarinhar tua alma levada, meu corpo o teu corpo abraçar.
Assim é esta minha alma gêmea: tem desejos de mulher madura, defesas de criança medrosa – a mistura da mulher ideal.
Corpo e alma estão sempre em conflito. O corpo acelera, em busca de saciar os seus desejos mais prementes. A alma, sempre recua, analisando se deve ou não permitir ao corpo os vôos que ele se propõe. Desconfio, porém, que essa danada, a alma, está se sempre a se aproveitar das loucuras que o corpo comete.
Cidade dos Sonhos, madrugada da última Sexta-Feira de Janeiro de 2010
João Bosco