APENAS LEMBRANÇAS.

Sinto, ainda que na ausência de mim,

Algo inominável a mexer-me o peito.

E hoje aqui estou respirando o tempo e reduzindo palavras,

Pensando no que vivi, com a intensidade da qual vivi.

Aquelas palavras doces como mel aos meus tímpanos,

Seguravam-me na imensidão de cada passo.

Eras-me grande bem mais que isso, imensurável,

Prendia-me nos detalhes do atalho que eram os meus desejos.

...

(suspiros)

Aquele olhar me fez apagar de meus olhos o mundo,

E concentrar toda a minha atenção ao teu detalhe.

Roubei de minha consciência a inocência para contigo ficar,

Não pelo meu instinto, mas pelo que era ao teu lado.

Livrei-me dos pesos em algum lugar da minha decência,

Para que sentisse teu “eu” nas minhas loucas tentações.

Admiti um vocabulário para adequar-me ao que não pronunciavas,

Para que eu pudesse estar presente até mesmo no teu silêncio.

...

(suspiros)

Ouvi as mais belas canções, no fluxo do nosso amor,

Cada uma falava um pouco de nós, ou nós éramos as canções?

Da vida éramos a inspiração, não vivíamos, a vida nos vivia,

E meu sangue fervilhava a cada toque.

Substitui minha calma, pelo desvario de quem por ali passasse,

Experimentando viver com outra vida.

Vida que não era minha, mas que me deste ao me dominar,

Fazendo-me subir e descer de mares, alheios a mim.

...

(suspiros)

Ponho-me a ilustrar sonhos com teu rosto, adormeço em ti.

Restam-me lembranças, doces ou amargas, mas me são lembranças.

Aquela boca, aquele corpo, aqueles detalhes, aquelas voltas...

Fizeram-me caminhar por onde nunca sequer, pensei passar...