DUAS DA MANHÃ

Duas da manhã.

Sono escorrendo, cabeça fervilhando, suor dedilhando o peito.

A companheira aninhada, perto e tão longe,

as vontades indo e vindo, como passos cambaleantes de um adeus.

O silêncio aprumando suas fraldas e falas,

a luz querendo despertar antes do tempo,

o ar trocando suas mortalhas pelas novas sedas da manhã.

Duas da manhã,... e ninguém mais no mundo,

o frio ainda teima em juntar seus poros no mesmo regato,

a saudade tentando achar suas tetas apalpando as minhas tantas almas.

Duas da manha e os olhos conquistaram sua alforria e não me obedecem mais,

o coração faz o que bem quer dentro do meu peito,

a barriga range por um vazio que incomoda sussurando sem trégua.

Quero rasgar essa fronha que espeta minha face,

quero afogar esse silêncio que tanto se faz de vencido, mas sempre vence,

quero tragar fundo as vértebras daquela paixão que hoje não quer mais nada comigo.

Duas da manhã e volto pra sala, volto para aquele copo que sussurra tantos quero mais,

novos goles vão me levando para os confins de nunca deveria ter fugido,

e o sono, deportado como um bastardo que nunguém mais quer, vem de mansinho e me toma em seus braços.

E assim, começamos um tango que nunca mais vai querer se livrar das nossas fartas e mendigas estrepolias.

Até que tudo fica cinza, e calmo de novo.

Tudo para continuar sendo duas da manhã.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 29/01/2010
Reeditado em 20/03/2011
Código do texto: T2058155
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