Prelúdio

Teu corpo tem cheiro de medo

Recorte de mágoa, de vestido fino

E a maciez do veludo mais puro do mundo,

E a leveza da trama mais linda

Tem o toque avesso aos meus dedos, e os dedos avessos aos passos

O teu corpo escorrega e tropeça nas peças que a mente projeta nos braços

O teu corpo desliza nas meias-paradas do teu rodopio mais triste

E em um balé claudicante e indeciso tu és a melhor bailarina que existe

Entremeia um suingue estranho, teu corpo, e exala um perfume dançado

E acerta em cheio os peitos, as bocas, os leitos e os quartos fechados

É a sinfonia mais breve, mistura de todos os sons

Tem ares de gueixa que os olhos escrevem que gueixas são só do Japão

Tem olhos de ameixa que os ares carregam e espalham no chão castigado

E tão piedosos, pedintes, teus olhos, que os homens carregam nas mãos

Tu tens um sorriso impreciso, arrítmico, esgueiram-se teus dentes nos cantos

Que são dois sufocos, teus lábios concisos e plenos, silentes e sãos

Que são muito loucos, teus casos, retóricas, teus nexos, tantos e tantos!

Que embriagam teu corpo do doce, do néctar, da desilusão dos teus prantos

E as formas mais firmes, nuances profundas, desenhos de um mestre-artesão

Carregam meus olhos, perdidos, sozinhos, com a serena paz do soão

E condenam meu corpo inútil e vadio a seguir, ai, em vão, ai, em vão.

Joao L Terrezo
Enviado por Joao L Terrezo em 28/01/2010
Código do texto: T2055297