AMOR ATRASADO

Não sei se o universo das imperfeições calcula hora e dia para seus acertos;

Às vezes seus canais estreitos resolvem acatar embarcações descomunais;

E surgem lágrimas desiguais, umas que folgam e outras por apertos;

E a mesma alegria que afortuna o peito torna-se o motivo de seus ais!

Eu deveria e poderia ser feliz, até detenho bons motivos para ambos;

Ao descobrir os teus encantos me deparei com meu pecado mais sincero;

Mas a vontade que eu não quero é o pesadelo de meus sonhos;

Um incrível prejuízo em forma de ganhos, céu infinito de inferno eterno!

Se me proponho essa mordaça, não pense a dor que não me dói;

Pois o desejo que me corrói veleja sob ventos antagônicos;

Não me doei por bem querer a mares agônicos, não amo a fuga que me destrói;

Desejo que grita e rói, beijos e prazeres que só podem ser platônicos!

Seria diferente se o tempo conspirasse só um pouco a favor;

E apresentasse esse amor ao longo de um cenário bem contrário ao atual;

Não quero meu bem à custa de um mal e me torturo se preciso for;

Te devorando com ardor, negando ao meu sabor a presença de teu sal!

Quando me buscas eu me escondo, quando provocas finjo indiferença;

Por mais que a cumplicidade nos vença, não vejo recompensa que valha o perigo;

Queria estar contigo, queria permitir-me a nossa cúmplice vertência;

Qual a razão dessa descrença? Quem dorme em tua cama é meu amigo!

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