Asas da Noite
 
 
Aves noturnas que flutuam como barcos a vela.
Manto escuro bordado com os brilhos prateados.
Cume ou abismo celestial? Acima ou abaixo?
Grande ouvido a escutar as confissões terrenas.
 
Fragmentos de brisa fria e o calor dos hálitos.
Alma que às vezes quer ser, outras, desaparecer.
Individualidade perdida em meio ao Todo.
Realidade que brinca em meio às ilusões do ser.
 
Dentre tantos delírios, o maior e mais intenso,
O mundo real e seus pesadelos fingidos de sonhos.
Nos estilhaços de antigas dores, a mágoa afogada.
Exaustas as leves ironias, hão de vir duros sarcasmos.
 
Nuvens intrusas, pois que não foram convidadas.
Nuvens que se fazem véus que ocultam a lua.
E nesse mistério, luz noviça desafia a treva mortificada.
As sombras abandonam a passividade para serem vida.
 
Algo lembra este céu. Talvez o olhar feminino,
Em sua alquimia que promete céus e cumpre infernos,
No seu desejo que faz temer infernos, mas leva aos céus.
Ponte entre o profano e o místico, portal da transcendência.
 
Eva da eternidade, uma ave desgarrada cruza o céu.
E nas nuvens jazem velhos fantasmas, velhas lendas.
Olhares terrenos chocam-se com visões celestes.
E o céu perde-se da noite. E a noite foge do céu.

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 21/01/2010
Reeditado em 27/10/2019
Código do texto: T2043053
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