POEMA SUJO

POEMA SUJO

Um balaio de sementes carregaria

Colheria trigo se não fosse

Profética e em exaltação

A maneira dos andantes

Conduzirem o arado a facão

Com atitudes vadias

Não havendo tanta morte

das estrelas todos os dias

Quebrando cascas duras

ceifando floradas rosadas

Na caminhada, nas vielas

Nas ruas, as pedras

As ladeiras escorregadias

Subir descer soleiras

Chorar e sorrir no mesmo dia

Noites inteiras em quedas

Em luas partidas, quebras

Hóstias e as videiras

Caroços, aneurismas de vinho

sangue disparando tempestades

repentinas dores nos caminhos

Das despedidas, dos passos

dos abismos das calçadas

passando enxurradas

As horas, levando embora

Todo viver pela arte agiganta

Cada esperança, mas rápida sem resgate

Até a secura da garganta

Ao último soluço das bolhas

Deixando no ralo areia, sujeira

Concreto coração esgotado

Deserto, alucinações em sóis

A carne decomposta

A magreza dos sonhos exposta

em alguma mesa ou cadeira

um braço estendido, socorro escondido

o copo vazio sujo

como pouca lenha

crepitando vagarosa na lareira

à beira de certo poema de amor

das cidades

Cíntia Thomé

Cíntia Thomé
Enviado por Cíntia Thomé em 21/01/2010
Código do texto: T2042368
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