Ciúmes
A noite apenas nascera
Quando toquei em sua porta;
Meu peito tíbio se exorta
Ao mirá-la exuberante;
Suas curvas excitantes,
Projetadas no vestido,
Clamam afagos atrevidos
E carícias delirantes.
Dois copos - uma garrafa,
Castanhas para o repasto,
O quebra-luz de alabastro
Sua timidez desfaz;
Desnuda-se o corpo, audaz
E nos pés da cama, jogada
Mimosa prenda rendada:
A camisola lilás.
A intimidade da alcova
Desperta febris desejos;
Sussurros tornam-se harpejos
De lascívia sinfonia.
E aos encantos da magia,
Sublimando nosso amor,
Ingerimos o licor
Que doudamente inebria.
Na maciez dos lençóis
Em seu corpo naveguei,
Só muito depois notei
Um intruso em nossa cela;
Beijavam sua imagem bela
Fracos raios de áureo lume
E do Sol tive ciúmes
Entrando pela janela.
Jorge Moraes - Livro: Acalantos