AMANTES

Como posso fugir?

Por que tal palavra

Nos parece tão atroz?

Mesmo fugindo, ela crava

No peito, em mim, em ti...

Com então calar a voz

Se nos é tão iminente

Sermos infringidos pelo algoz?

Que te amo, bem sabes

Que me amas – constatei

Nosso querer é amiúde...

Mas qual o lenimento

Que a mim e a ti cabe

De não ratificar a lei...?

Se souberes, então me ajude,

Pois te juro, eu não sei!

Será mereçamos um degredo

Por amarmos um ao outro?

Será algo assim tão vil

Ser vítimas dum querer afouto?

Ante o júri mais tarde ou cedo

Insurgirei por nós, bravio:

Proscrevam o legítimo culpável,

Nosso coração que nos traiu!

Condenado, não exigirei remissão

Nem me importa qual o desterro

Pois tenho comigo o brio

Que nosso querer é insolúvel

E rompe as raias da razão...

Mesmo que vejam ignóbil este aferro,

Para não viver no vazio

Persistirei no meu erro:

Te amo, mesmo no limbo!