Solidão
Vem de longe o grito do solitário,
diz de si, dos próprios atos encerrados em pó,
único sol, agudo, sofrido,
no sempre que foi ao nada que lhe fez só.
Grita em ecos escondidos,
falado, cantado, por escrito,
nas entrelinhas dos sonhos mantém-se escondido,
as mentiras declamadas fazem seu corpo contrito.
No passo, no laço, nas correntes do caminho,
solta asas, mais um som, um gemido...
Fere o pejo no alento do sentido,
alimentando a garra que traz no espírito.
Arma suas defesas, parte com destreza,
sutil língua colocada sobre a tenda
da glória à paz, apenas a certeza,
de estar só, sem destino, à contenda.
Vem de longe o grito solitário,
cala o tudo que nunca ousou dizer,
grita forte, calado no mundo,
o poder de ser no tudo que deseja ter.
05/07/2006