SEPARAÇÃO

Ela atirou-me no inferno, empurrou-me para lá com um adeus inesperado; fui tirado do auge do sossego, arrancado da confiança e do conforto de uma vida pacata para beijar a fria boca da traição.

Tragado pela goela da realidade; aquela fria e dura que só acontece com as outras pessoas; engoliu-me talvez por engano ou pura fatalidade, pior ainda se por erro meu; tolo, nem sei o que se deu só me vi ali, sentado nos entulhos de um mundo desabado, perguntando o que aconteceu.

Daí veio o martelo da justiça e outorgou nosso fim. Esmagou as palavras ditas frente a um altar, numa só sentença que fulminou minhas esperanças e a crença nas belas instituições sociais.

Eis me aqui agora, livre para chorar e tentar entender; e responderam os poucos aliados:

-Isto é a coisa mais normal do mundo!

Acenaram com bandeiras bordadas de frases feitas. Todas lindas, todas perfeitas, mas nenhuma cobria meu peito, que descarnado chorava alheio.

E chorou tudo o que podia sentir. Nenhuma lágrima se empilhou para construir coisa alguma; foi tempo perdido, lamento sofrido que nada produziu; que ninguém ouviu ou se importou.

E foi no choro que eu me fiz forte, foi no ódio que descobri o amor, caminhando pelas trevas vi surgir da escuridão, anjos de luz, e da luz sair demônios. Aprendi então a ver através das máscaras, que ocultam faces hipócritas de belos sorrisos forçados.

Eis me aqui de novo, agora estou mais centrado.

Veio da multidão outro anjo, desses simples, só coração. Pegou-me mais pela alma, pela devoção, mostrou-me velhas e novas cidades, em algumas eu já havia estado, outras, simplesmente eu não conhecia. Passeamos por esquecidas emoções e brincamos crianças, de tal forma nos misturamos que fizemos nosso próprio paraíso, nossas próprias esperanças.

E foi aninhado no aconchego de um novo trono, firme por braços queridos, que vesti olhos puros, e olhando para trás, à luz do sol, vi o mundo que eu tinha erguido. Castelos de areia, gigantes de papeis e tesouros corrompidos. De que me valeram tantas lavouras plantadas, tanto tempo perdido? Vestida de festa a vida passou, e eu no cabo da enxada, por todo resto esquecido.

Dom Luizito
Enviado por Dom Luizito em 15/01/2010
Reeditado em 15/01/2010
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