Conflito

Envolvido nas brumas do segredo,

Trago oculto do amor meu sentimento;

Prisioneiro, liberto em pensamento,

Sou marujo de um barco sem comando;

A omissão impõe-me ir navegando

Pelas águas cruéis do sofrimento.

O horizonte que o anseio descortina

Até então só existe em fantasia;

A coragem sucumbe à covardia

Sufocando meu peito combalido,

E hasteando bandeiras sem partido,

A procela seu nome silencia.

Asfixiadas no ventre do desejo

Em fantasmas transformam-se ilusões;

Habitando os recônditos porões

Onde sempre o querer foi o censor;

Insensível aos desígnios do amor,

A razão foi castrando aspirações.

Toda vez que a vontade me impulsiona

A externas a tristeza de meus ais

Sentimento e palavra são rivais;

O silêncio sepulta então o grito,

Perpetua-se assim o atroz conflito:

Se confesso - talvez não a veja mais.

Jorge Moraes - Livro: Acalantos

Jorge Moraes
Enviado por Jorge Moraes em 09/01/2010
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