Conflito
Envolvido nas brumas do segredo,
Trago oculto do amor meu sentimento;
Prisioneiro, liberto em pensamento,
Sou marujo de um barco sem comando;
A omissão impõe-me ir navegando
Pelas águas cruéis do sofrimento.
O horizonte que o anseio descortina
Até então só existe em fantasia;
A coragem sucumbe à covardia
Sufocando meu peito combalido,
E hasteando bandeiras sem partido,
A procela seu nome silencia.
Asfixiadas no ventre do desejo
Em fantasmas transformam-se ilusões;
Habitando os recônditos porões
Onde sempre o querer foi o censor;
Insensível aos desígnios do amor,
A razão foi castrando aspirações.
Toda vez que a vontade me impulsiona
A externas a tristeza de meus ais
Sentimento e palavra são rivais;
O silêncio sepulta então o grito,
Perpetua-se assim o atroz conflito:
Se confesso - talvez não a veja mais.
Jorge Moraes - Livro: Acalantos