A Unidade do Caos
Por hoje eu vou esquecer de tudo
De tudo o que, por você, passei
Tomarei posse do que seria meu
Se não fosse por sua tanta altivez
Porque você chega empurrando meus portões
Arremetendo palavras cruéis de admiração e paixão
E eu me deparo com minha imagem nua de proteção
Flechada no meu ponto "I" de Imaginação
E assim fico, bambo no salto, no impacto
Estagnada em seu tempo, no vasto, ao acaso
Inebriada por sua lambida doce e cáustica
Deixo-me corroer naquilo em que já nem acredito
Que você, então, venha e me vença
Acaso já não desfaleceu em meu peito?
Mostre-me o que eu finjo que ainda não sei
E eu irei fazê-lo crer que o que me diz seja possível
Ah!... Impossível! Seu signo é o oposto do meu
Seu ferrão sempre força os meus cascos
Nós não podemos controlar o incontrolável
Embatemos fortes por algum ideal caótico
Somos duas catedrais com raízes fundas no chão
Dominamos os segredos da edificação e da ruína
Criaturas indecifráveis, imponderáveis e indignas
Isoladas pelo abismo afiançado por nós dois
Apesar da escuridão ainda mantemos, um do outro, o laço
Somos cruéis o bastante pra lambermos no mesmo prato
Repartimos tudo aquilo que ora nos farta e ora nos mata
E misturando as línguas sorvemo-nos mel e fel, e seca água
Em espasmos intelectuais ritmamos nosso mesmo caos
Um desafio, num pacto de excentricidade, entre afãs
Inviolável, passional, cúmplice e bestial...
Como nos opostos que se atraem. E se traem
Portanto, por hoje, eu lembrei de tudo
De tudo a que você se permitiu e eu deixei
Pois quando a você releguei os meus domínios
Eu já tinha a posse da coroa que o faz Rei
Naturalmente o sinto: está aqui
Alimentando-se precavido, de mim
Sua emoção precisa derramar-se
Sobre minha lua por (in)justa inspiração
E ainda que diga que não
Sabemos, sempre será assim
Você tragando os meus segredos
Torcendo os dedos e se entregando pra mim...
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