Ele estava condenado…
A viver
As sombras
Que ela trazia
Alapadas à sua luz
E que lhe faziam lembrar
Demasiadas vezes
O seu esquecido
E obliterado
Passado
Ele estava condenado…
Por amor
Por mera solidão
Pelo vício
De não gostar de estar sozinho
Preferindo a companhia fusional
E disfuncional dela
Imersa em indescritíveis contradições
Pois o som que mais apreciava
Era o bater em uníssono
Dos seus corações
A viver os seus dramas
Os seus crepúsculos
As suas diatribes
Que ela gostava de encetar
Com um mundo
No qual
Não achava
Que tinha lugar
A não ser junto dele
O seu depositário de mágoas
E de poucas euforias
O seu depositário de amarguras
E de quase nenhumas alegrias
O seu amor de ocasião perene
Pois toda a gente
Ela conseguia espantar
E por isso amava aquele homem
O último do mundo
Sem saber se ela a amava
Ou apenas tolerava
De uma forma piedosa
E algo misericordiosa
Ela aceitava a humilhação de pedinte de afectos
Pois sabia
Que só junto dele
Teria um lugar
Por isso
Ele estava condenado…