Ele estava condenado…

A viver

As sombras

Que ela trazia

Alapadas à sua luz

E que lhe faziam lembrar

Demasiadas vezes

O seu esquecido

E obliterado

Passado

Ele estava condenado…

Por amor

Por mera solidão

Pelo vício

De não gostar de estar sozinho

Preferindo a companhia fusional

E disfuncional dela

Imersa em indescritíveis contradições

Pois o som que mais apreciava

Era o bater em uníssono

Dos seus corações

A viver os seus dramas

Os seus crepúsculos

As suas diatribes

Que ela gostava de encetar

Com um mundo

No qual

Não achava

Que tinha lugar

A não ser junto dele

O seu depositário de mágoas

E de poucas euforias

O seu depositário de amarguras

E de quase nenhumas alegrias

O seu amor de ocasião perene

Pois toda a gente

Ela conseguia espantar

E por isso amava aquele homem

O último do mundo

Sem saber se ela a amava

Ou apenas tolerava

De uma forma piedosa

E algo misericordiosa

Ela aceitava a humilhação de pedinte de afectos

Pois sabia

Que só junto dele

Teria um lugar

Por isso

Ele estava condenado…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 08/01/2010
Código do texto: T2017689
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