Vestido de festa

Vestido de festa

Rasguei o vestido de festa vermelho

Chorando enraivecida frente ao espelho

Descalcei as sandálias amarelo dourado

Olhei meu corpo revoltado, arroxeado

Já nua, me joguei em baixo do chuveiro

A água escorrendo levando para o esgoto

Os restos de ti, teu beijo, teu cheiro

Marcas em meu corpo, dor, desgosto

Rasguei a lembrança adormecida

Do nosso amor em minha vida

Do livro virei a página sofrida

Mesmo sentindo a dor da ferida

Fui tua, te dei o remo, meu barqueiro

Repousei em teu ombro, meu porto

Naufraguei, virei destroços, pedaços

Da existência desfiz, cortei nossos laços

Rasguei as franjas do passado

Que teimam em dourar as lembranças

Em busca de mortas esperanças

Teimosas sempre a me desafiar

De teu cálice, meu antigo amado

Bebi o veneno da traição

Que matou minha última ilusão

E deixou meu ser todo despedaçado

Do vestido rasgado cosi os retalhos

Retrato do novo amor é o fundo do bordado

Enfeitam a bainha lindas franjas douradas

Tenho a sola dos pés leves, macias descalças

Meu corpo hoje objeto consagrado

Ao amor verdadeiro, em qualquer ato

Bebo e celebro o vinho vermelho

Diante da vida este real espelho

Dispo meu vestido de festa ainda vermelho

Como a chama da paixão dentro do coração

Meu corpo ressuscitado em cima do colchão

Arde de prazer, anseia pelo amado.

Navego nas ondas vermelhas do prazer

Molhada na chuva de teu suor e beijos

Dentro da noite profunda e enluarada

Vai longe nosso veleiro.