A mulher que era meio sombra meio luz
Tinha vindo
De um lugar
Onde deixaram as sombras prosperar
Era uma espécie de refugiada
Do eclipse
E da vida
Já pouco tinha a esperar…
Escolheu para viver o seu exílio
Na Cidade Luz
Para onde a sua ternura
A conduz
Instintivamente
De forma a fugir
Das lágrimas negras que deita
Cada vez que se esquece
Que não vive no passado
Mas sim no presente
E ela vive
Duas vidas
Uma crepuscular
Outra
Luminosa
Ela vive dos restos
Das recordações de quem amou
E que o tempo
Seu maior aliado
Seu pior inimigo
Tudo levou
E ela é incapaz de amar
Sem ser numa noite bem bebida
Trocando corpos quentes
Como quem troca de vida
Dando beijos sem os sentir
Parando a meio
Para recitar poesia
Que ninguém quer ouvir
Ela é dona do seu coração
Dos sonhos que ainda não foram desfeitos
E que pertencem
À sua imensidão
E eu conheci-a
Numa das suas noites loucas
E sem sentido
E eu fui mais um que a amei
Por uma breve eternidade
Ficando com a sua parte das sombras
Que tal como ela
Tento equilibrar com a luz
Nas minhas noites sem nada
E dias por vezes sem sentido
Sendo que o meu único desejo
É que a tivesse comigo…